25.6.14
25.4.13
brincando com os deuses
12.4.11
a coisa mais fina do mundo é o sentimento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Adélia Prado
22.3.11
música de vó
roda, roda inté cansar
um vintém bateu no outro
Fez tirim tirim tatá
Hoje me lembrei da minha avó cantando essa música.
Não me lembro direito da situação específica, mas consigo sentir a sensação exatinha de ser algo ligado à crianças pequenas ou à alguma festinha que ela fazia para as crianças que estavam por perto quando estava alegre de ver a casa cheia de netos. Sabe aquele trejeito de adulto quando está perto de alguma criança?
Eu sempre gosto de observar adultos com crianças. O comportamento muitas vezes é surpreendente. Aquele homem agressivo, arrogante e dono da verdade, às vezes vira um ser engraçadíssimo e cheio de encantos perto das crianças. E geralmente, também é adorado por elas. O moço que sempre senta num canto, é rígido consigo mesmo e certinho, se transforma num doce espontâneo que as crianças sempre podem contar quando necessitam da ajuda de alguém maior que eles. Enfim, muitas são as facetas dos adultos, inclusive aquelas que indicam que eles já foram crianças.
E minha avó é a espontaneidade em pessoa. Uma criança num corpo de adulto. A coisa mais linda que já se viu por aí. E não é porque é minha avó, não. Tem admiradores por todas as partes.
Mas eu só vim aqui porque, mesmo estando do outro lado do oceano, estava na correria cheia de coisas pra fazer quando de repente minha avó cantou essa música na minha cabeça. E sem querer e nem pensar, eu parei o que estava fazendo e disse alto: É isso.
Não entendo completamente o que se passou, só sei que vim correndo consultar no Google para saber se havia registro e referências dessa música. Alguma coisa podia dar. Mas não achei nada.
Vim aqui, então, fazer essa conexão com a minha avó, matar a saudade dela que é a maior de todo mundo que deixei lá no Brasil e guardar na memória, minha e dessa coleção, mais um pedacinho de infância.
Quando der, ponho ela cantando essa música pra mim aqui. Vai dar pra gravar pela webcam. É que o marido dela de 91 anos, meu avô, tem uma conta no skype e me liga de vez em quando.
31.10.10
cotonetes
por Gisela Schögel
Das poucas lembranças que tenho da minha infância, uma é das minhas plantações de cotonetes. Sim, cotonetes, pois na minha época de criança, não existiam hastes flexivéis. Era só cotonete mesmo e pronto.
Moravámos numa casa grande na Rua Bamboré, no Ipiranga. Eu, meus pais, e meus dois irmãos. Como a filha do meio, sofria os traumas de não ser nem a mais velha, nem o caçula. Ficava sempre com as sobras, inclusive as de amor. E isso nunca me fez mal, pelo contrário, me fez ser todo dia mais doce e mais amorosa. Acho que quanto menos amor você recebe, mais amor você quer dar.
Minha mãe contava que durante a minha gravidez, ela desejou muito uma filha que fosse apegada à ela, pois a minha irmã mais velha fazia a mala sempre que uma visita aparecia em casa, e ia embora, passar a noite, e às vezes uns dias na casa dela.
Então eu nasci. Sei lá porque, era tanto o meu amor pra dar à ela, que acabei sufocando a pobre coitada. Ela contava de boca cheia pra todo mundo ouvir que eu a perseguia pela casa. Acho que de tanto ouvir isso, passei a ter vergonha e medo de sentir e principalmente de falar de amor.
O sentimento, obviamente eu não consegui evitar, mas nunca quis falar de amor pra ninguém, muito menos pra ela. Não falei de amor nem quando senti uma daquelas paixões que te dão a impressão de ter vários corações pulsando ao mesmo tempo dentro de você.
Pouco antes da minha mãe morrer, olhei pra ela e quis dizer, mas não consegui. E não sei porque, eu me lembrei dos cotonetes. Nós tínhamos um jardim lindo, com roseiras na frente da casa, e outro, mais modesto nos fundos. E era num cantinho escondido do jardim mais modesto que eu plantava os cotonetes, bem apertadinhos na terra. Era uma briga quando minha mãe achava os cotonetes. Eu não sei como (hehehe...), mas ela achava e os arrancava, e cada cotonete plantado me custava um dia de castigo. Mesmo assim, eu voltava a plantá-los, na esperança de vê-los brotar. Então, um dia, eu resolvi desistir. Eu achei melhor acreditar que elês não iam mesmo nascer.
E depois da morte da minha mãe, ninguém mais que eu ame vai passar na minha vida sem ouvir:
- eu te amo...
mesmo que seja tímido e bem baixinho...
sobre a autora:Gisela Schlögel é designer gráfico e web. É formada em Ilustração na Escola Panamericana de Arte, mas de dois anos pra cá se dedica também à fotografia, de onde tira elementos para os seus trabalhos.
Além de tudo isso, ainda é admirada por mim por ser tão legal e praticamente da minha família, já que, além de mãe de tantos gatos, é mãe da Chimbica, irmã de sangue da minha gata Chun Li.
para ver seus trabalhos: www.giza.art.br
30.4.10
cariño ou afago na alma
por Miki W.
ah, a minha infância… teve momentos alegres e momentos tristes, mas, no ‘balanço das horas’, tenho saudades. lembro da lancheira caprichosamente preparada pela minha mãe que era sempre pãozinho francês com uma camaradinha de margarina e salaminho e uma garrafinha [aquela antiga de plástico com copinho atarraxada em cima] de suco de laranja. lembro das botinhas ortopédicas, de pintar as unhas de verde, de ser esquisita [desde pequena], de ser brabicha, de ser tímida, de brincar de bolo de barro na rua com as filhas da vizinha. lembro do alpendre na minha primeira casa da rua padre charton, 22, dos elementos vazados cor de barro e o sol entrando e fazendo desenhos no chão e nas plantas da minha mãe. lembro de um quintal em forma de U com um barrancão ao fundo. lembro da longa escadaria sem parapeito de alvenaria rústica, com areinhas que faziam cosquinha nos pés. lembro da casa da vizinha, d. ebe, de seu filho joão ~ que era o tio preferido de todos os netos ~ e das brincadeiras endemoniadas com a mais endemoniada das netas, a carla.
lembro da rita, minha primeira melhor amiga e das correspondências que trocávamos cada uma em um canto do são paulo, ela na capital e eu no interior. cartas que guardo até hoje. lembro do pé-de-moleque ~ em minha memória maravilhoso ~ que a minha obachan fazia só pra mim. nunca comi nada igual. delicioso e com perfume de infância.
lembro dos meus priminhos mais prediletos, filhos da irmã mais nova da minha mãe que era a única tia que morava relativamente perto de nós quando ainda morávamos ‘na capitar’. eu já era mocinha, eles eram crianças, mas ah! como eu gostava daqueles priminhos.
lembro do quito, meu periquitinho verde que depois foi comido pelo gato do vizinho do meu primo. não me lembro bem porque, mas ele foi embora da minha casa para a casa do meu primo e não durou muito o pobre. teria sido melhor que ele tivesse ficado conosco :(. pobre quito…
lembro da entrada da minha primeira escola, a subida de paralelepípedos, os arcos altos de concreto, as escadarias, as estátuas de santa, a capelinha, o pátio do recreio, a cantina, a pizzinha da cantina e as balas ‘bandinha’ [um veneno só]. lembro do meu primeiro amor, do meu segundo amor e de como tudo foi platônico. sinto nostalgia e saudade.
lembro das festas juninas, dos vestidos caipira, da quermesse, da pescaria no tanque de areia [a minha favorita ever], das prendas que tínhamos que levar para a escola, da quadrilha…
lembro das aulas de música, a professora ao piano. lembro das freiras da escola. da lagartixa que uma delas carregava dentro de um pote de vidro de maionese.
sabichii*…
lembro dos tombos de bicicleta, do lixo atirado ao rio, das aventuras na padaria. ‘502 gramas de mortadela, moço’ ‘500 e… 2?’ ‘sim’ disse eu sem sombra de dúvida. lembro do fura-bolo, do sorvete que tinha chiclé no fundo do copinho e dos ventiladores [antigos] de teto que giravam como hélices de avião e ao redor de si mesmos ao mesmo tempo.
lembro do uniforme cor de vinho, das fotografias anuais no pátio, das festas de aniversário com bolo ‘toalha felpuda’ embrulhados no papel alumínio. eram molhadinhos e tão bom!
lembro do parquinho, dos tanques com muitas torneiras para se beber água, do grande salão com palco onde aconteciam as apresentações de música.
lembro de um dos meus brinquedos favoritos, o telefone ‘bate-papo’ da estrela e de como eu podia me entreter por horas com ele [quer dizer, essa parte eu acho pois não consigo ter lembranças dessa idade tão remota].
ali tudo era tépido e seguro. ali eu me sentia aconchegada, amada, protegida. ali eu me sentia feliz apesar de tudo. ali eu não tinha dúvidas, desespero, ansiedade…
talvez por isso eu sinta tanta saudade. talvez por isso eu tenha uma afeição especial por coisas ‘de criança’. talvez por isso eu continue querendo ser criança para sempre na vida. talvez…
21.abr.2010 ~ 17:53 a 18:41
* sabichii é uma expressão em japonês que decifra uma saudade melancólica, uma falta de não-sei-o-quê, um vazio dentro do peito que parece que não conseguirá ser preenchido por coisa desse mundo.
sobre a autora:
Essa menina fofa no velotrol é a Miki W. Uma pessoa incrível, essa minha amiga linda e eterna companheira de ateliê. Ela é artista plástica, designer e escritora. Muito talentosa e querida, adora inventar palavras novas. Tem mil e um talentos e é prendada que só vendo. Sabe a expressão "mãos de fada"? Acho que foi inventada para ela. Para ver mais sobre seus lindos trabalhos feitos com aquelas mãos de fada, entre aqui:
http://www.flickr.com/photos/mikiw
7.4.10
O Sítio e o Cachorro Louco
por Patrícia Kalil
Férias. Sítio de meu pai! Que divertido era passar férias no sítio de meu pai. Dias de peripécias! Assistíamos ao meu pai matar porco, mostrar o passo a passo do cuidado com a horta, achar abóboras gigantes pela plantação.
Ele tinha uma lata velha, enferrujada, misteriosa, que ficava sempre na sala. Dizia que tinha um rato enorme dentro e ameaçava as crianças quando a bagunça parecia incontrolável.
- Cida, pega a lata do rato! Vamos parar com essa zona, senão eu abro…a lata!
Eu morria de medo que ele abrisse. Tinha certeza que desfaleceria só de ver o rato gigante que ele criava lá.
Como a vida não é feita só de hortas e porcos, um dia… aconteceu um acidente. A mulher do caseiro gritou esbaforida:
- Seu Ricardo, um cachorro tá comendo meu marido! Seu Ricardo!!
Todas as crianças (eu, Luciano, Kalilzinho, Amelinha, Ticinha, Tiago, Binho e sei lá mais quem –a casa de meu pai sempre foi cheia de crianças) estavam espalhadas pelo sítio. Uns brincando de fazer bolo de barro, outros brincando de pega-pega, outros de pescar no lago … De repente, ouvi a tia Cida gritar:
- Crianças, venham para cá! Corram! Fiquem! Abaixem!! O pai saiu com o revólver. Tem um cachorro louco solto!
- Do que ela tá falando? Que cachorro louco?, pensei eu.
Bem, movimento e medo geral. Luciano me procurando. Eu procurando Luciano. Meu pai, o caseiro, o cachorro louco, a tia Cida gritando e as outras crianças perdidas.
Na minha imaginação, acho que me meti embaixo da Kombi (hoje, o senso crítico faz com que eu reveja essa parte e pense que, de fato, eu tenha pulado dentro da Kombi). Luciano estava comigo. Ouvimos tiros.
Era a primeira vez -e espero, a única – que o pai saía para matar. Ninguém deveria estar no caminho. Eu pensei: “Ora, por que ele não pegou a lata do rato?” De qualquer forma, na minha memória, meu pai salvou o caseiro, matou o cachorro e enervou o vizinho dono do Dog Alemão.
Sobre a autora:
Patrícia Kalil além de ser essa menina fofa de rosa na boca, é escritora, jornalista, supresa boa do ano passado, companheira de projetos de elevador e amiga querida gêmea-de-cor-olho. Confesso que esta última descrição foi mais por conta de eu querer ter algo parecido com esta moça admirável e linda de tudo que ela é. Aposto que todos adorariam conhecê-la! Para ler e sentir um pouco mais do que ela pensa, sente e vê deste e de outros mundos, entre aqui:
29.3.10
kindergarten
Texto e foto por Gabriela Cordaro
Ela não falava minha língua. E nem eu a dela. Durante os sete dias em que passei na Áustria, numa cidadezinha de nome impronunciável, uma criança de dois anos foi meu modo de sentir e olhar para o mundo.
Seu nome era Jael, tinha finos cabelos loiros e olhos de um azul brilhante, como não poderia deixar de ser.
Ela estava no kindergarten na manhã em que eu cheguei a sua casa para permanecer ali por mais sete dias. No começo me estranhou. Me acusava de ler os livros da mãe dela, de sentar e dormir na casa dela. Eu tentava me comunicar. Sua língua era um alemão dadaísta que eu tampouco compreendia. Tentava um sorriso e nada, seu olhar de acusação permanecia.
Na noite do primeiro dia, enquanto jantávamos, resolvi pegar na sua mão. Ela aceitou e de mãos dadas percorremos toda extensão da pequena casa em que estávamos até chegarmos a caixa de lápis de cor. Ela, então, me deu papel para que nós duas desenhássemos. E assim fizemos até o momento em que ela foi dormir. Naquele ponto ela já tinha entendido que eu era uma amiga diferente, literalmente de outro país. Ou de outro planeta, quem sabe?
Desenharmos juntas fez de nós duas companheiras. Então, Jael me levava para onde ela ia. Trazia livros de estórias para que eu contasse. Eu as contava em português e ela ouvia atenciosamente. Um dia, como que por milagre, perguntei: "cadê o gato?". Acreditem ou não, ela apontou para o lugar certo do livro onde o gato se encontrava e me fez compreender que entre nós havia outra língua sendo dita e sentida.
Todas as manhãs, ela me acordava com um longo abraço. Mexia na minha corrente cheia de amuletos e me pedia coisas, em alemão. Eu, realizava o que intuía e assim fomos nos dando muito bem.
Um dia ela me pediu algo que não compreendi. Ela, então, pediu a sua mãe; queria que eu a levasse ao kindergarten. Lá fui eu. Jael entrou muito excitada na sala de aula, começou a chamar todos os colegas e lá me apresentou para todos. Eu era o brinquedo que ela acabara de ganhar, um brinquedo muito diferente. Tive de ir, ela ficou frustrada. Mesmo assim me deu um beijo de despedida.
Voltar da escola significava para ela voltar pra mim. E eu confesso que ansiava também por sua volta. De tanto chamá-la de "coisa linda", no aeroporto, quando parti, foi assim que ela me disse adeus, coisa linda! E então, no sétimo dia, Deus inventou a linguagem do coração.
E eu chorei e sorri.
Sobre a autora:
Gabriela Cordaro é atriz e minha irmã do meio. Além de mil virtudes, ainda escreve lindamente. Para ler seus escritos absurdamente incríveis, é preciso acessar uma língua inventada chamada Pídgin, quase essa língua que ela falou com a Jael:
http://pidgininofensivo.blogspot.com
eu recomendo fortemente.
16.3.10
Um menininho lá de Ubá
por Osvaldo Piva
Nasci e cresci no interior de Minas Gerais, em Ubá, terra de Ary Barroso (e Nelson Ned). Como sou o caçula de cinco filhos, brincava um pouco com meus primos, médio com minha irmã “de cima” e muito com meus vizinhos. Nossas brincadeiras aconteciam geralmente na rua, que na época era bem tranquila e com paralelepípedos.
Pique de Esconder
Nenhum segredo, né, mas a gente brincava da seguinte maneira: a pessoa que estava no pique tinha que contar em sua base, virado pra parede, até 30 em voz baixa e em seguida dizer bem alto “31-de-janeiro-lá-vou-eu!”. Daí ele saía para procurar os escondidos. Mas não bastava encontrá-los. Tinha que sair correndo até sua base e bater na parede dizendo o nome do encontrado bem alto: “1-2-3-Fulano!”. O primeiro a ser descoberto estava no pique. Outra curiosidade é que o último escondido podia salvar todo mundo que tinha sido encontrado, bastando para isso chegar à base antes de quem estava no pique, bater na parede e gritar: “1-2-3-salvo-todo-mundo!”. Se isso acontecesse, a pessoa que estava no pique continuava por mais uma rodada.
Bandeirinha Estourou
A gente dividia o grupo em dois e pegava uma bandeirinha – que geralmente era um galho com algumas folhas – para cada time. Funcionava quase como Queimada. No início gritávamos juntos: “Bandeirinha-estourou-1-2-3!”. Cada time deveria defender sua bandeirinha, que ficava sempre atrás da equipe, no chão, em uma área isolada pela imaginação. O objetivo consistia em pegar a bandeirinha do time adversário e levar para o outro lado. Para isso, um dos membros tinha que se arriscar e atravessar o campo do outro time. Se qualquer adversário tocasse nele, ele ficava “colado” e parado como uma estátua no campo “inimigo”. Só poderia ser descolado com o toque de outro da mesma equipe. A área da bandeirinha era neutra, então, se você conseguisse chegar até lá, não poderia ser colado, mas só seria salvo por outro de sua equipe.
Mãe da Rua
Uma turma ficava numa calçada e a outra na calçada oposta. Alguém era escolhido para ser a Mãe da Rua. Não era difícil escolhê-lo, pois a maioria queria ser o pegador. Tínhamos que atravessar para a outra calçada usando um pé só, pulando como o Saci. Imagine pular de um pé só descalço em uma rua feita com paralelepípedos – e imagine falar paralelepípedos o tempo todo com 10, 12 anos de idade! Se a Mãe da Rua te pegasse, você estava fora da brincadeira. Com o tempo incrementamos a brincadeira usando tênis apenas no pé usado para pular. Ficávamos muito tempo com um pé descalço e outro calçado.
Boca de Forno
Geralmente alguém era escolhido pra ser o Mestre – quase sempre a minha irmã “de cima”, que divertidamente abusava do poder de ser mais velha e mestre ao mesmo tempo. Para começar, tínhamos que falar umas palavras de ordem que eram assim:
Mestre: Boca de Forno!
Todos: Forno!
Mestre: O que o Mestre mandar...
Todos: Faremos todos!
Mestre: E se não fizer?
Todos: Ganharemos bolo!
Daí o Mestre inventava coisas absurdas para todos fazerem juntos, tipo “desçam até a pracinha rebolando”, “peçam dinheiro para aquele senhor”, “vá até a cozinha da sua casa e me traga um pedaço de bolo”...
Sítio do Pica-Pau Amarelo
Quase todos os dias, parávamos as brincadeiras na rua para assistir o Sítio do Pica-Pau Amarelo e Globinho, com a Paula Saldanha. Depois voltávamos pra brincar na rua e ficávamos até tarde. Lembro que eu cantava a música de abertura do Sítio assim:
Marmelada de banana, bananada de goiaba
Goiabada de marmelo
Sítio do Pica-Pau amarelo
Sítio do Pica-Pau amarelo
Bonecário pano é gente, sapo gu de milho é gente
O sol nasce em tché tão belo
Sítio do Pica-Pau amarelo
Sítio do Pica-Pau amarelo
O restante da letra eu não me lembro.
Sobre o autor:
Osvaldo Piva é artista plástico e comparsa de futuros projetos artísticos em deliciosas reuniões de sexta-feira.
Estas memórias, o clima da foto acima e sua origem mineira transparecem num artista talentoso e de conversa muito boa. Para saber mais sobre seu trabalho, clique aqui.
5.5.09
Teco-teco
Uma música escrita para a Gal lá pelos idos de 1975, um ano antes de eu nascer. Linda, tava ouvindo enquanto lia os comentários novos aqui no blog e só depois fui me dar conta do quanto ela tem tudo a ver com o tema do Coleção de Brincadeiras.
Lá vai:
Teco, teco, teco, teco, teco
Na bola de gude era o meu viver
Quando criança no meio da garotada
Com a sacola do lado
Só jogava p'rá valer
Não fazia roupa de boneca nem tão pouco convivia
Com as garotas do meu bairro que era natural
Subia em postes, soltava papagaio
Até meus quatorze anos era esse meu mal
Com a mania de garota folgazã
Em toda parte que passava
Encontrava um fã
Quando havia festa na capela do lugar
Era a primeira a ser chamada para ir cantar
Assim vivendo eu vi meu nome ser falado
Em todo canto, em todo lado
Até com quem nunca me viu
E hoje a minha grande alegria
É cantar com cortesia
Para o povo do Brasil
28.12.08
Erê Cassandra ensaiava a vida
por Cassandra Mello
O que eu gostava mesmo era de criar coisas. Não lembro muito de brincar de escolinha, médico, mamãe-e-filhinho. Talvez até brincasse, mas minha caixa preta deletou e o que guardo são as invencionices.
A primeira brincadeira que lembro é a de rádio. Entrevistava meu pai, minha mãe, cantava (lembro de cantar o marinheiro vai sair pro maaaar, vai trabalhaaaar, meu bem quereeeer), contava piada.
Nas férias, ia pra casa de meus primos no Rio de Janeiro e meu primo Nicolau e eu organizávamos um show de fim de ano para a família. A gente compunha um samba enredo do ano, arrumávamos o palquinho, a platéia – e cobrávamos ingresso pra comprar grapete na praia. Era uma delícia!
Gostava de fazer fantoches e inventar peças. Escrevi uma peça com amiguinhas também - um mix de várias histórias infantis - e encenamos no meu quarto. Cada amiga tinha um papel, mas o que eu gostei mesmo foi de fazer a luz do "espetáculo" - havia abajures espalhados e cada um tinha na frente um papel celofane (que sempre queimava, é claro, e eu ficava encafifada querendo saber o que se usava nos teatros de verdade).
Durante um período fiquei obcecada por construir projetores de slide. Fazia lá a caixa de papelão com pilha pra acender a pequena lâmpada, um buraco pra colocar o slide e tudo o mais - mas nunca dava certo também, porque não tinha lentes.
Outra coisa que eu amava fazer: o que batizei exatamente agora de túnel sinestésico. Na época a brincadeira não tinha nome, mas era assim: criava túneis (usando caixa, colchão, qualquer coisa que criasse corredores) e colocava nele várias coisas que pudessem atiçar os sentidos: geleca no chão, panos em tiras amarrados em cima, bolinhas, etc. e ficava do lado de fora, fazendo ruídos, chacoalhando as paredes, enfim, todo tipo de coisa.
Cada túnel criado tinha que ter elementos diferentes pra que os amigos passassem. Era bem divertido!
E então, lembrando de tudo isso, percebo que sou erê grande e continuo brincando das mesmas coisas!
Sobre a autora:
Cassandra Mello é uma moça bonita e criativa que vive dos olhos: fotografa, grava e ilumina. Além de fazer a animada festa Pro Mundo Ficar Odara, escreve no blog Os Bandidos, da peça do Zé Celso Martinez Correa, da qual trabalha.
Seu blog: http://suspiropraviagem.blogspot.com/
10.12.08
Tiago, o goleiro imaginário
Sou o mais novo de quatro irmãos da minha família. Então, até a 5ª série, eu não tinha muitos amigos para brincar fora os amigos da rua, cujas mães os deixavam em casa para estudar e não fazer muita bagunça. Resultado: eu brincava sozinho na maioria das vezes, em uma casa com um terreno total de 2800m.
Subia em árvores para pegar mangas, goiabas, mexirica, ou somente para me pendurar mesmo, adorava também um bom banho de chuva, pois lá em Brasília, onde nasci, as gotas eram grossas e, quando chovia, eu corria no gramado. Lembro de implorar para minha mãe para poder tomar banho de chuva, ficar embaixo das goteiras do telhado e entrar em casa depois para tomar um delicioso banho quentinho.
Eu, na verdade, gostava de todas as brincadeiras, mas a que eu mais curtia era jogar bola sozinho, pois ali eu fantasiava meu sucesso, minhas acrobacias e pulos.
Eu era o goleiro do time de salão da escola, e então, todo frango que sofria nas partidas de verdade, eu descontava na fantasia. Pra ilustrar bem isso, segue a minha foto agarrando no gol imaginário:
Sobre o autor:
Tiago Viegas Carneiro é poeta e amigo, e ainda guarda essa cara boa que estava fazendo na foto quando era criança. Só que agora, ele joga tênis.
seu blog: http://amarguradamadrugada.blogspot.com
9.12.08
Playmobils na estante
Por Isabela Cordaro
Minha brincadeira preferida quando era pequena era de escolinha.
Eu chegava da escola, pegava meu caderno com a matéria do dia, minha lousinha, colocava minhas bonecas na cama e ficava horas e horas explicando e ensinando tudo que tinha aprendido para elas.
Adorava ensinar ciências, principalmente. Fazia chamada, corrigia provas, lições de casa e, quando chegava a hora do jantar, eu fazia como se fosse a hora do recreio. Era muito divertido!
Outra brincadeira que eu adorava era fazer revistas. Eu pegava pilhas de revistas e jornais e recortava tudo para montar uma outra, que eu criava, com as matérias e fotos que eu escolhia. Minha revista chamava-se Estrela.
Com uns 9 anos de idade, eu tinha também um jornal mensal que chamava Jornal da Bebel. Passava o mês todo colhendo informações da família e novidades e montava num programa antigo de computador, o Escritor Criativo... Recebia até cartas dos leitores!
Quando fazia bolos ou doces, ou qualquer outra aventura na cozinha, adorava brincar que era apresentadora de um programa de receitas na televisão. Cada ingrediente que eu usava, eu falava e explicava a receita para uma câmera imaginária!
Gostava também de pegar os meus Playmobils e espalhá-los pela casa toda, como se fosse uma cidade. Tinha escola, hospital, prédios, casas... Tudo mobiliado com os enfeites da sala da minha mãe.
Na escola, além da balança (tinha competição para quem pegasse impulso e fosse mais alto), e de pegar amora e pitanga nas árvores do pátio, eu adorava brincar de labirinto. A brincadeira era a seguinte: minha professora desenhava um labirinto gigante com giz no chão de areia. Eu ficava horas e horas tentando chegar ao centro dele.
Sobre a autora:
Isabela Cordaro, minha irmã eterna bebê, é formada em Gastronomia e estudante de Jornalismo. Além de ter habilidades musicais, uma coleção de compactos vinis dos idos de 70 e livros de receita, ainda guarda os seus Playmobils na estante.
seu blog: http://dansquelquelieu.blogspot.com
22.9.08
A brincadeira da Inércia
Era assim:
Quando andávamos juntas de carro, charrete, ônibus ou metrô, tínhamos, inevitavelmente, que nos deixar levar pela inércia. Era uma lei (da física!) a ser cumprida.
E era uma delícia ir de um lado ao outro, deixando nossos corpos moles serem levados ao sabor das curvas, buracos, paralelepípedos e da velocidade...
Como era bom sentir tudo isso e de quebra aprender naturalmente (e corporalmente) um pouco de física!
Uma variação dessa brincadeira deixava-a ainda mais interessante: além dos corpos serem levados pela inércia, emitíamos sons direcionando-os à caixa torácica que "tremiam" a cada chacoalhada diferente causada pelos buracos e texturas da rua.
Pezinho (ou Melissinha)
foto: Alana Felix, 13 anos.
Eu era simplesmente apaixonada por essa brincadeira.
Talvez porque quando os jogadores já possuíam grande habilidade no Pezinho, a brincadeira se transformava numa dança linda de corpos se mexendo no compasso das (tentativas de) pisadas de pé seqüenciadas. E era lindo de ver e participar.
Acontece assim:
Uma roda de crianças, todas colocando um dos pés no centro da circunferência formada.
Enquanto os pés estão no centro, todo mundo fala:
- Pezinho!
E depois disso dá-se um pulo para trás e os participantes vão dizendo a ordem de quem será o primeiro, segundo... Até o último a jogar, assim: Primeira! Segundo! Terceira! Quarto!
Então começa a rodada. O primeiro participante tem que tentar pisar no pé de alguém com um único passo ou pulo e ficar onde parou, na mesma pose congelada. A pessoa responde tentando tirar o pé rapidamente num outro único passo ou pulo e congelar também. E vai indo na seqüência, conforme a ordem que os participantes estipularam.
Quem tiver seu pé pisado, sai da roda.
A brincadeira é mais legal ainda quanto maior o número de participantes a jogar.
Hoje em dia essa brincadeira ficou um pouco violenta, pois já vi o pessoal machucar o colega num pisão forte.
Outro dia, propus numa classe e meus alunos se recusaram a brincar, dizendo "Onde já se viu ficar pisando no pé dos outros? Vai sujar meu tênis..."
Acho que as preocupações e intenções mudaram um pouco...
Brincadeira do Espelho
Essa eu inventei e brincava sozinha.
Pegava um espelho relativamente grande que tinha lá em casa, mas que eu conseguia carregar com as minhas mãozinhas de criança, e segurava ele encostando-o sobre meu peito e refletindo o teto.
A brincadeira consistia em andar pela casa olhando somente para o reflexo do espelho, contornando cuidadosamente todos os obstáculos como lustres, batentes de portas e janelas e não esbarrar em nada do que eu via.
O legal de tudo isso era sentir um mundo diferente do que o mundo que eu estava vendo e vice-versa, porque sempre esbarrava em um sofá, um sapato no chão, a cama e outros móveis realmente existentes no espaço por onde eu andava, mas não via. E pulava lustres e batentes que eu via, mas não sentia.
Adorava a sensação de contraposição entre o realmente sentido versus o realmente visto.
Espelhos realmente podem ser mágicos. E eu passava horas me deliciando nesse mundo inventado por mim.
Corrida de Tatu-Bolinha
E nele, moravam centenas de tatus-bolinha, sabe? Aquele insetinho com múltiplas patinhas, que vira bolinha para se proteger? Uma graça!
A criançada da rua tinha verdadeira paixão pelos tatuzinhos e, como eles sempre estavam por perto, alguém um dia inventou de fazer um campeonato de corrida com eles...
Riscamos com um pedaço de tijolo vermelho o chão com as linhas onde cada tatu-bolinha iria competir e colocamos o ponto de partida e de chegada. As crianças escolhiam um tatu-bolinha para ser seu competidor. E dá-lhe os tatus-bolinha correndo!
O tatu vencedor era aquele que, além de ter alcançado primeiro a linha de chegada, não tinha virado bolinha e nem saído da pista.
E a corrida de tatu-bolinha virou moda por um bom tempo na minha rua. Até que um dia, a gente se cansou. E os tatus-bolinha deram graças a deus.
Alguém aí fazia corrida de tatus-bolinha também?
21.9.08
Batatinha frita um, dois, três!
Assim:
Uma criança fica de costas para um paredão e as outras crianças ficam na outra extremidade, enfileiradas. Melhor ser uma distância considerável entre o paredão e as crianças, para que haja um grau de dificuldade maior na brincadeira.
A criança que está no paredão, conta, de olhos fechados e virada para a parede: "Batatinha frita um, dois, três!"
Enquanto isso, as outras crianças enfileiradas vão caminhando conforme o ritmo ditado pela criança na parede (pode ser rápido, devagar, pausado...).
A criança da parede, quando terminar a frase, deve virar para o grupo todo que vai imediatamente ficar paralisado feito estátua enquanto a criança observa se alguém irá se mexer.
Quem se mexer, volta para o início e deve começar tudo de novo.
O resto vai andando em direção ao paredão até alcançá-lo com as mãos.
Só pode voltar a se mexer quando a criança do paredão estiver de costas, cantando a música.
O objetivo das crianças é alcançar o paredão. Quem alcançar primeiro, será a nova pessoa a contar "batatinha frita um, dois, três".
20.9.08
Mamãe Polenta
Mamãe Polenta é incrível, um jogo de encenação (mamãe e filhinhos) que termina num delicioso pegador (ou pega-pega, para alguns).
Eu e meus amigos adorávamos brincar e geralmente acontecia quando estava frio, chovendo ou os meninos tinham ido jogar futebol e não queriam saber das meninas.
Mamãe Polenta é assim:
Uma criança vai ser a Mamãe Polenta e o resto da criançada vai ser filho.
Mamãe está na cozinha preparando uma polenta, e os filhos, atraídos pelo cheirinho gostoso, perguntam:
filhos - Mamãe, que cheiro bom é esse?
mãe - Polenta, meus filhos.
filhos - Dá um pouquinho?
mãe - Não, agora eu vou à missa. Só depois, quando o papai chegar.
E a mãe tranca a polenta no forno e vai para a missa levando a chave.
Enquanto a mãe reza, suas mãos estão para trás entreabertas, segurando a chave.
Os filhos seguem a mãe e um deles rouba a chave sem a mãe perceber. Saem de fininho e, de volta à casa, abrem o forno e comem toda a polenta.
Quando a mãe volta da missa, todos os filhos ficam se contorcendo e choramingando, dizendo assim: "Ai, que dor de barriga! Ai que dor de barriga!”.
E acontece o seguinte diálogo:
mãe - Cadê a Polenta que estava aqui?
filhos - O gato comeu...
mãe - Cadê o gato?
filhos - Está em cima do telhado...
mãe - E como eu faço pra subir?
filhos - Pega uma escada...
mãe - E se eu cair?
filhos - Bem feito!
E a mãe sai correndo atrás deles por causa da malcriação!
Quem for pego será a próxima Mamãe Polenta.
No contexto da brincadeira, acontece traquinagem e desobediência à mãe e achávamos isso uma delícia! E mesmo com a moral imperando em alguns momentos, com os filhos da Mamãe ficando com dor de barriga depois de comer a polenta toda sem permissão, a brincadeira acaba com eles fazendo malcriação para a mãe de novo... Eu adorava!
Quem aí brincava de Mamãe Polenta também?
(E se você sabe alguma variação dessa brincadeira, escreva pra mim contando.)
19.9.08
Mando tiro tiro lá
Como dava muito trabalho porque é meio demoradinha, nem sempre o pessoal queria brincar. Mas, quando alguém topava, pra mim era a maior alegria!
Já na minha época de criança, nós sabíamos que o "Mandotiro" era uma brincadeira mais antiga, e acho que por isso também tinha um encantamento muito grande.
Desde pequena eu sempre gostei de imaginar crianças iguais a mim, em vários lugares e épocas, fazendo as mesmas coisas que eu fazia.
Eu ficava pensando como era incrível existir tanta gente no mundo fazendo sempre coisas iguais, muitas delas na mesma hora que eu! Piscava e imaginava que um monte de gente estava piscando na mesma hora: na China, na casa do vizinho, na Bahia...
E isso era uma coisa mágica! Eu nunca me sentia sozinha.
Depois, essa brincadeira evoluiu para ficar observando pessoas na rua e tentar coordenar os passos com os delas e piscar na mesma hora exatinha em que elas piscavam. Me dava uma sensação de sermos iguais, e isso me deixava satisfeita.
Outro dia conversei sobre o Mandotiro com a Tatiana, minha prima-irmã (nossos pai são um casal de irmãos que se casou com outro casal de irmãos. Mesmo sangue, mesma parentada) da mesma idade e companheira de brincadeiras. E ela fez um comentário interessante, talvez por ser psicóloga e ter um olhar investigativo para as coisas. Ela é uma das pessoas mais analíticas que conheço. E, apesar de ela não achar muito isso ultimamente, acho que escolheu a profissão certa.
A Tati acha que o Mandotiro pode ser uma brincadeira para a criançada "entender" um Brasil cheio de famílias que não podiam criar seus filhos tamanha a pobreza, e era comum dar a criança para outra família mais abastada cuidar. Então, "surgiu" o Mandotiro pra criançada experimentar o que elas viam acontecer ao seu redor, e as possibilidades de uma vida diferente (Que ofício dai a ela, mando tiro tiro lá?).
Lá vai:
Uma fileira de crianças de mãos dadas que será a família, com a mãe e os filhos (pode ter pai, tia, o que quiser).
E uma outra criança, de frente para a família que será a mulher que quer uma filha.
A brincadeira toda é feita com versinhos em forma de diálogo entre a família e a mulher. Sempre quando a família falar, vai cantar andando em direção a mulher sincronizando os passinhos com os versinhos cantados, para frente e para trás, e vice-versa.
mulher - Bom dia, Vossa Senhoria
Mando tiro tiro lá
família - Que deseja em vossa casa?
Mando tiro tiro lá
mulher - Eu desejo uma de suas filhas
Mando tiro tiro lá
família - Qual delas a Senhora deseja?
Mando tiro tiro lá
mulher - Eu desejo a mais bonita (esperta, faceira, querida...)
Mando tiro tiro lá
família - Todas elas são bonitas (ou outros adjetivos)
Mando tiro tiro lá
mulher - Eu desejo a Maria
Mando tiro tiro lá
família - Que ofício dai a ela
Mando tiro tiro lá
mulher - Dou o ofício de professora
Mando tiro tiro lá
E então, a filha é perguntada se aceita ou não este ofício... Se a resposta for negativa, a mulher deve escolher outro até a filha topar. E finalmente quando ela aceitar o ofício, todos cantam:
Vamos fazer a festa juntas
Mando tiro tiro lá
Já comemos, já bebemos,
à saúde de Iaiá!
E a filha sai da fileira da família e dá as mãos para a mulher, que continua pedindo filhas para a família até a mãe ficar sozinha ou até cansarem da brincadeira...
Você já brincou disso? Me conta?
(E se você sabe alguma variação dessa brincadeira, escreva pra mim contando.)
Ju e Tati bem pequenas, sempre juntas, no colo da avó (paterna pra mim e materna pra ela), Zoé.
Cê tem brochove?
Mas quando finalmente descobri essa e outras pegadinhas, sai por aí me divertindo a perguntar:
Setembro chove?
Se aqui nevasse usava esqui?
O ó tem som de u?
Parecia que eu sabia falar russo e inglês. E era tão legal a novidade...
17.9.08
Brincadeira do Viúvo
Ao terminarmos, pedi uma brincadeira que eles costumavam fazer, e logo eles se lembraram da Brincadeira do Viúvo, que também é feita com piscadas.
Fiquei super intrigada com essa brincadeira! Nunca tinha ouvido falar dela e quis saber se outras pessoas conheciam, mas até agora, só mesmo a comunidade desta favela eu fiquei sabendo que brinca de "Viúvo", como eles costumam chamar.
Não sei se há nessa brincadeira uma origem de outro estado do Brasil ou se foi inventada naquele lugar mesmo por alguma criança, eles também não sabiam me dizer...
Leia e me diga: é ou não é uma brincadeira que reflete incrivelmente o "mundo dos adultos” ?
A brincadeira é assim:
Um círculo de cadeiras onde cada pessoa fica sentada em uma. Essas, serão as "esposas". Em apenas uma das cadeiras, não senta ninguém.
Atrás de cada cadeira, ficará um "marido" de pé, com as mãos para trás e, na cadeira vazia, ficará (também de pé) o "viúvo".
Todas as esposas se olham e o viúvo flerta com todas elas, que também olham para ele.
Quando ele piscar para alguma esposa, ela deverá rapidamente sair de sua cadeira e sentar na cadeira do viúvo, que então, se tornará um marido.
Os maridos não podem deixar suas esposas saírem da cadeira, e quando um viúvo pisca para a esposa dele, prontamente ele deve segurar os ombros da esposa, para que ela não escape.
Quando um marido bobeia e não percebe o flerte do viúvo, deixando sua esposa escapar, ele se torna o viúvo da vez.
Você já brincou de Viúvo? Me conta?
(E se você sabe alguma variação dessa brincadeira, escreva pra mim contando.)
16.9.08
Mês
Eu adorava essa brincadeira porque tinha uma energia de ansiedade muito grande em saber se a a alternativa eleita por você iria ser a escolhida pela pessoa que tinha acertado qual era o mês. E o contrário também era muito bom, com a famosa pergunta: o que você quer do mundo? Já imaginou uma pergunta assim? E a gente podia escolher qualquer coisa que quisesse do mundo, uma coisa incrível!
Então, a brincadeira na minha rua era a seguinte:
Elege-se primeiramente qual a dupla que vai primeiro.
E então essa dupla tem que escolher escondido dos outros participantes, que pode ser de qualquer quantidade, algum mês do ano.
O segredo do mês eleito fica guardado apenas pela dupla, que vai sair perguntando para os participantes qual mês a pessoa deseja: "que mês?", "que mês?".
Quando alguém acertar o mês eleito, a dupla pergunta para a pessoa: "o que você quer do mundo?"
E a pessoa tem que dizer alguma coisa: viagem, namorado, filme, cor, comida, carro, passeio, amigo, enfim, tudo o que dê para se escolher entre duas opções.
A pessoa diz o que quer do mundo e a dupla sai novamente do grupo.
Cada um da dupla escolhe (contando como segredo) qual será a opção que dará para a pessoa daquilo que ela escolheu que quer do mundo.
A dupla retorna ao grupo diz as duas opções para a pessoa, que terá que escolher entre uma delas.
A pessoa escolhe a opção de uma das duas e, então, a que não tiver sua opção eleita, volta para o grupo.
Uma nova dupla, com a dona da opção eleita e a adivinhadora do mês é formada, e a brincadeira prossegue desse jeito...
Quem aí brincava de mês também?
(Se você sabe alguma variação dessa brincadeira, escreva pra mim contando.)