16.3.10

Um menininho lá de Ubá




por Osvaldo Piva

Nasci e cresci no interior de Minas Gerais, em Ubá, terra de Ary Barroso (e Nelson Ned). Como sou o caçula de cinco filhos, brincava um pouco com meus primos, médio com minha irmã “de cima” e muito com meus vizinhos. Nossas brincadeiras aconteciam geralmente na rua, que na época era bem tranquila e com paralelepípedos.

Pique de Esconder

Nenhum segredo, né, mas a gente brincava da seguinte maneira: a pessoa que estava no pique tinha que contar em sua base, virado pra parede, até 30 em voz baixa e em seguida dizer bem alto “31-de-janeiro-lá-vou-eu!”. Daí ele saía para procurar os escondidos. Mas não bastava encontrá-los. Tinha que sair correndo até sua base e bater na parede dizendo o nome do encontrado bem alto: “1-2-3-Fulano!”. O primeiro a ser descoberto estava no pique. Outra curiosidade é que o último escondido podia salvar todo mundo que tinha sido encontrado, bastando para isso chegar à base antes de quem estava no pique, bater na parede e gritar: “1-2-3-salvo-todo-mundo!”. Se isso acontecesse, a pessoa que estava no pique continuava por mais uma rodada.

Bandeirinha Estourou

A gente dividia o grupo em dois e pegava uma bandeirinha – que geralmente era um galho com algumas folhas – para cada time. Funcionava quase como Queimada. No início gritávamos juntos: “Bandeirinha-estourou-1-2-3!”. Cada time deveria defender sua bandeirinha, que ficava sempre atrás da equipe, no chão, em uma área isolada pela imaginação. O objetivo consistia em pegar a bandeirinha do time adversário e levar para o outro lado. Para isso, um dos membros tinha que se arriscar e atravessar o campo do outro time. Se qualquer adversário tocasse nele, ele ficava “colado” e parado como uma estátua no campo “inimigo”. Só poderia ser descolado com o toque de outro da mesma equipe. A área da bandeirinha era neutra, então, se você conseguisse chegar até lá, não poderia ser colado, mas só seria salvo por outro de sua equipe.

Mãe da Rua

Uma turma ficava numa calçada e a outra na calçada oposta. Alguém era escolhido para ser a Mãe da Rua. Não era difícil escolhê-lo, pois a maioria queria ser o pegador. Tínhamos que atravessar para a outra calçada usando um pé só, pulando como o Saci. Imagine pular de um pé só descalço em uma rua feita com paralelepípedos – e imagine falar paralelepípedos o tempo todo com 10, 12 anos de idade! Se a Mãe da Rua te pegasse, você estava fora da brincadeira. Com o tempo incrementamos a brincadeira usando tênis apenas no pé usado para pular. Ficávamos muito tempo com um pé descalço e outro calçado.

Boca de Forno

Geralmente alguém era escolhido pra ser o Mestre – quase sempre a minha irmã “de cima”, que divertidamente abusava do poder de ser mais velha e mestre ao mesmo tempo. Para começar, tínhamos que falar umas palavras de ordem que eram assim:

Mestre: Boca de Forno!

Todos: Forno!

Mestre: O que o Mestre mandar...

Todos: Faremos todos!

Mestre: E se não fizer?

Todos: Ganharemos bolo!

Daí o Mestre inventava coisas absurdas para todos fazerem juntos, tipo “desçam até a pracinha rebolando”, “peçam dinheiro para aquele senhor”, “vá até a cozinha da sua casa e me traga um pedaço de bolo”...

Sítio do Pica-Pau Amarelo

Quase todos os dias, parávamos as brincadeiras na rua para assistir o Sítio do Pica-Pau Amarelo e Globinho, com a Paula Saldanha. Depois voltávamos pra brincar na rua e ficávamos até tarde. Lembro que eu cantava a música de abertura do Sítio assim:

Marmelada de banana, bananada de goiaba
Goiabada de marmelo
Sítio do Pica-Pau amarelo
Sítio do Pica-Pau amarelo

Bonecário pano é gente, sapo gu de milho é gente
O sol nasce em tché tão belo
Sítio do Pica-Pau amarelo
Sítio do Pica-Pau amarelo

O restante da letra eu não me lembro.

Sobre o autor:

Osvaldo Piva é artista plástico e comparsa de futuros projetos artísticos em deliciosas reuniões de sexta-feira.
Estas memórias, o clima da foto acima e sua origem mineira transparecem num artista talentoso e de conversa muito boa. Para saber mais sobre seu trabalho, clique aqui.



6 comentários:

atelier ABOUT disse...

Eba!!!! blog com mais brincadeiras!

que feliz! :D

juliana c disse...

éeeeee! retomei! :)
graças aos amigos que quiseram dar seus depoimentos!
beijo

Solange Hette disse...

meus deuses! eu brincava igualzinho pelas ruas de são paulo. e nem de ubá sou. paulistana da gema, sem ter pra onde voltar, não imaginava que minha infância foi tão boa quanto qualquer molequinha do interior... bom!

Cesar Cordaro disse...

Parece-me que há três equívocos na letra da música, no 1º e no 2º verso, da última estrofe, que é assim:

Boneca-de-pano é gente, sabugo de milho é gente
O sol nascente é tão belo
Sítio do Pica-Pau amarelo
Sítio do Pica-Pau amarelo

juliana c disse...

mas aí mora a brincadeira! osvaldo, o menininho lá de ubá cantava a letra errado, mesmo... como sua filha gabriela na letra de emília, a boneca gente:

"...ela é feita de pano,
mas pensa como SERUANO
esperta e ACREDITA,
é uma maravilha,
emília, emília..."

beijo!

ALMANAQUE DE BRINCADEIRAS disse...

Olá! Acabei de concluir um projeto no qual me empenhei nos últimos dias: O ALMANAQUE DE BRINCADEIRAS. Ele contém 500 atividades recreativas, entre brincadeiras ao ar livre, dinâmicas de grupo, brincadeiras de salão, brincadeiras para gincana, brincadeiras para crianças e adolescentes de todas as idades (do pré-escolar ao ensino médio). É uma obra bem elaborada e incrivelmente completa. Item obrigatório em qualquer instituição de ensino ou organização que desenvolve atividades com crianças. Também é interessante para pais e voluntários que promovem brincadeiras com a garotada da família e da vizinhança. São atividades bem legais e fáceis de fazer, que com certeza irão promover momentos intensos de alegria e lazer saudáveis. Baixe esse manual e ponha em prática as brincadeiras. Além de estar garantindo uma infância mais saudável às nossas crianças, você também estará garantindo a todos os participantes momentos inesquecíveis de felicidade. ACESSE!