7.4.10

O Sítio e o Cachorro Louco




por Patrícia Kalil


Férias. Sítio de meu pai! Que divertido era passar férias no sítio de meu pai. Dias de peripécias! Assistíamos ao meu pai matar porco, mostrar o passo a passo do cuidado com a horta, achar abóboras gigantes pela plantação.

Ele tinha uma lata velha, enferrujada, misteriosa, que ficava sempre na sala. Dizia que tinha um rato enorme dentro e ameaçava as crianças quando a bagunça parecia incontrolável.

- Cida, pega a lata do rato! Vamos parar com essa zona, senão eu abro…a lata!

Eu morria de medo que ele abrisse. Tinha certeza que desfaleceria só de ver o rato gigante que ele criava lá.

Como a vida não é feita só de hortas e porcos, um dia… aconteceu um acidente. A mulher do caseiro gritou esbaforida:

- Seu Ricardo, um cachorro tá comendo meu marido! Seu Ricardo!!

Todas as crianças (eu, Luciano, Kalilzinho, Amelinha, Ticinha, Tiago, Binho e sei lá mais quem –a casa de meu pai sempre foi cheia de crianças) estavam espalhadas pelo sítio. Uns brincando de fazer bolo de barro, outros brincando de pega-pega, outros de pescar no lago … De repente, ouvi a tia Cida gritar:

- Crianças, venham para cá! Corram! Fiquem! Abaixem!! O pai saiu com o revólver. Tem um cachorro louco solto!

- Do que ela tá falando? Que cachorro louco?, pensei eu.

Bem, movimento e medo geral. Luciano me procurando. Eu procurando Luciano. Meu pai, o caseiro, o cachorro louco, a tia Cida gritando e as outras crianças perdidas.

Na minha imaginação, acho que me meti embaixo da Kombi (hoje, o senso crítico faz com que eu reveja essa parte e pense que, de fato, eu tenha pulado dentro da Kombi). Luciano estava comigo. Ouvimos tiros.

Era a primeira vez -e espero, a única – que o pai saía para matar. Ninguém deveria estar no caminho. Eu pensei: “Ora, por que ele não pegou a lata do rato?” De qualquer forma, na minha memória, meu pai salvou o caseiro, matou o cachorro e enervou o vizinho dono do Dog Alemão.

Sobre a autora:

Patrícia Kalil além de ser essa menina fofa de rosa na boca, é escritora, jornalista, supresa boa do ano passado, companheira de projetos de elevador e amiga querida gêmea-de-cor-olho. Confesso que esta última descrição foi mais por conta de eu querer ter algo parecido com esta moça admirável e linda de tudo que ela é. Aposto que todos adorariam conhecê-la! Para ler e sentir um pouco mais do que ela pensa, sente e vê deste e de outros mundos, entre aqui:

http://www.patriciakalil.com/blog

Um comentário:

Pat disse...

feliz!! brincadeira e memória, eis uma edição pessoal do que lembro daquele dia. de fato, acho que meu pai só assustou o cachorro, é que assim fica bem mais assustador :)
adorei participar, jujuba!!