28.12.08

Erê Cassandra ensaiava a vida



por Cassandra Mello

O que eu gostava mesmo era de criar coisas. Não lembro muito de brincar de escolinha, médico, mamãe-e-filhinho. Talvez até brincasse, mas minha caixa preta deletou e o que guardo são as invencionices.

A primeira brincadeira que lembro é a de rádio. Entrevistava meu pai, minha mãe, cantava (lembro de cantar o marinheiro vai sair pro maaaar, vai trabalhaaaar, meu bem quereeeer), contava piada.

Nas férias, ia pra casa de meus primos no Rio de Janeiro e meu primo Nicolau e eu organizávamos um show de fim de ano para a família. A gente compunha um samba enredo do ano, arrumávamos o palquinho, a platéia – e cobrávamos ingresso pra comprar grapete na praia. Era uma delícia!

Gostava de fazer fantoches e inventar peças. Escrevi uma peça com amiguinhas também - um mix de várias histórias infantis - e encenamos no meu quarto. Cada amiga tinha um papel, mas o que eu gostei mesmo foi de fazer a luz do "espetáculo" - havia abajures espalhados e cada um tinha na frente um papel celofane (que sempre queimava, é claro, e eu ficava encafifada querendo saber o que se usava nos teatros de verdade).

Durante um período fiquei obcecada por construir projetores de slide. Fazia lá a caixa de papelão com pilha pra acender a pequena lâmpada, um buraco pra colocar o slide e tudo o mais - mas nunca dava certo também, porque não tinha lentes.

Outra coisa que eu amava fazer: o que batizei exatamente agora de túnel sinestésico. Na época a brincadeira não tinha nome, mas era assim: criava túneis (usando caixa, colchão, qualquer coisa que criasse corredores) e colocava nele várias coisas que pudessem atiçar os sentidos: geleca no chão, panos em tiras amarrados em cima, bolinhas, etc. e ficava do lado de fora, fazendo ruídos, chacoalhando as paredes, enfim, todo tipo de coisa.
Cada túnel criado tinha que ter elementos diferentes pra que os amigos passassem. Era bem divertido!

E então, lembrando de tudo isso, percebo que sou erê grande e continuo brincando das mesmas coisas!

Sobre a autora:
Cassandra Mello é uma moça bonita e criativa que vive dos olhos: fotografa, grava e ilumina. Além de fazer a animada festa Pro Mundo Ficar Odara, escreve no blog Os Bandidos, da peça do Zé Celso Martinez Correa, da qual trabalha.

Seu blog: http://suspiropraviagem.blogspot.com/

5 comentários:

ana dundes disse...

eu gostei desse espaço, senhora dona juliana educadora que acredita na liberdade da arte!
eu compartilho da sua crença.

Anônimo disse...

Lindo!

Cassandra Mello disse...

Ju, tanto tdepois de publicado, venho aqui agradecer o seu espaço. seu blog é realmente lindo, de delicadeza ímpar.

juliana c disse...

a lindeza está nos olhos de quem vê.

Anônimo disse...

Que legal esse relato! Evoé, jovens à vista!